E SE 2019 NÃO TIVESSE EXISTIDO?
O tempo é uma das coisas mais fascinantes do universo. Só um ser atemporal poderia ser capaz de tal façanha, criar o tempo. Só um olhar externo a tudo isso poderia conceber algo tão inusitado.
Para nós, serem temporais em matéria, é difícil imaginar ou sonhar o eterno presente, uma vez que para nós ele – o presente – praticamente não existe. Vivemos no limiar de passado e futuro. O segundo nosso de cada momento se esvai rapidamente para o passado e o próximo, que era futuro, deixa de ser num piscar de olhos, em mais uma breve respiração.
O gosto da eternidade repousa em nossos espíritos e nos faz questionar a existência do tempo. Com o passar dele começamos a questionar a sua existência, o seu esgotamento. Afinal de contas qual o seu benefício? Qual o seu propósito? Porque tanta inflexibilidade?
Em geral não paramos para fazer este tipo de análise. O tempo corre, voa, passa. E se para uma boa parte das pessoas ele é dinheiro, imagine o que significa parar para pensar. Porém o final de um ano nos força a este tipo de situação.
Mas sempre que volto ao tema fico mais convicto do propósito do tempo para nós mortais: O TEMPO ENSINA!
Tomando o aprendizado como propósito temporal, me fiz a seguinte pergunta: E se 2019 não tivesse existido? Pois bem, eis as respostas que encontrei:
Se 2019 não tivesse existido eu…
…não teria aprendido com Gene Sharp que protestos de rua não são suficientes para mudar um sistema, apenas ações coordenadas podem produzir uma primavera;
…não teria me ligado que a inteligência espiritual é a próxima competência a ser buscada pelas organizações, inclusive as capitalistas, mesmo com segundas intenções;
…não teria entendido que as redes sociais aproximam ao mesmo tempo em que distanciam e que o fiel dessa balança sou eu; também não teria sacado que o objetivo maior de todas elas é o exibicionismo, se há uma coisa que não precisa de evolução é a boa e velha armadilha da vaidade – afinal de contas “cá estou eu”;
…não teria relembrado que o escape dessa armadilha é a simplicidade – a expressão mais natural da humildade;
…não teria efetivamente internalizado que a única forma de vencer o consumismo é não consumindo e por mais simples que seja a lição, também aprendi que essa é a mais difícil de colocar em prática;
…não teria me convencido que as empresas vão seguir bombando em vendas; mas também não teria constatado que uma boa parcela delas já se preocupa com o “porque” além do “como”;
…não teria mais uma vez vivenciado que confiança prévia te coloca em maus lençóis, mas mesmo assim decidi seguir confiando e arcando com prejuízos; embora permaneça em mim a esperança da recompensa/justiça futura;
…não teria trabalhado em uma startup e verificado que as grandes corporações não fazem mais a cabeça de uma boa fatia de jovens empreendedores; também não teria caído a ficha de que é necessário muito esforço de um velho como eu para ter empatia com essa nova geração;
…não teria prestado tanta atenção no humor, uma ferramenta incrível de comunicação e, talvez a única, que tem conseguido falar a todos, seja para o bem ou para o mal, seja pela blasfêmia ou benção, indistintamente;
…não teria escutado tanta gente precisando de apoio profissional, emocional e espiritual e presenciado o mover puro da amizade, sua imensurabilidade, seu alcance e seu poder de constrangimento;
…não teria comprovado, mais uma vez, que liderança é uma arma letal em mãos erradas;
…não teria acompanhado mais um capítulo de evolução social e aprendido que, graças a Deus, paradigmas sociais podem ser quebrados mais facilmente hoje e que em breve Maquiavel vai pendurar as chuteiras, para algo novo. Bom? Ainda não sei. Vou precisar de mais alguns anos de aprendizado e observação para chegar a uma conclusão mais segura;
…não teria aprendido que a dor do seu filho é a maior dor que você pode sentir; mas também não teria aprendido que ensinar o perdão e o não revide ao seu filho também é uma ação coordenada para mudar o sistema da maldade;
…não teria aprendido que nenhum algoritmo e nenhuma inteligência artificial são suficientemente capazes de produzir gratidão; e não teria ficado mais uma vez em recuperação nas matérias de companheirismo, camaradagem e coleguismo. Será preciso muito estudo e dedicação nos próximos anos, pois são elas que fazem o tempo ter sentido, ter lógica, ter propósito;
…não teria experimentado várias vezes o cheiro bom de voltar para casa, beijar e abraçar a mulher da minha vida e um piá cabeludo (diferente do pai) e gordinho (igual ao pai);
Se 2019 não tivesse existido eu não teria experimentado a bondade e o amor de Deus. Sua essência expressa em seu Filho;
Por fim eu não teria compreendido que aprender a contar anos em busca de sabedoria é uma tarefa maravilhosa. Ele sabia disso e, como sempre, transformou o castigo em algo prazeroso. Como um pai justo e amoroso que não alivia no corretivo, mas o transforma em lição boa e agradável.
O tempo ensina. Me ensinou mais uma vez!
Começo 2020 ansioso por mais lições. Espero que você também.